Conhecimento de mundo
E estava ela numa caixinha maltrapilha, com laços trancada
De longe valia pouco, de perto quase nada
Um pequeno bilhete adornava o embrulho
E com poucas palavras pouco dizia:
“Abrir com moderação”
E não deu... Foi o romper do lacre, foi o cair da face e o encanto se perdeu
Agora não havia mais caixa, nem adorno, nem nada, era a Terra e eu
Era uma bola azul, verde e branca não aparentava brilho
O trabalho foi com certeza desleixado, maltrapilho
Aos poucos fui enfrentar a realidade, toquei-a com medo, sem vontade
Estava quente, maternalmente quente
E chamei-a de Gaia, num rompante de liberdade que ousei
Havia uma fração vermelha nessa estranha esfera,
Ao longe dava pra ver quimeras
No verde, algumas feras, no azul as sereias,
Baleias, tão gordas, tão elas
E para o que fosse mais detalhista,
Dava para ver de relance vermelhas as listras
De um tal sentimento que pouco se espalhou,
Chamei-o de Amor
Numa tentativa de derivar algo que soasse com calor
A preocupação sempre foi grande com seu fenecer,
O processo era lento, e nada de Gaia crescer
O verde esmaecia, o azul clarearia, o vermelho permanecia
Quem sabe fosse a chama, o combustível de quem ama
Bem, e fui arrancando os cabelos, elucubrando pompas, cobrindo as bocas
Nada podia arrancar a sobriedade daquele ecossistema de amar
Eu, como mãe havia de ter falhado e algum componente não pude dar
O que era quente ficou frio, o que era esperança; desafio
E fui tirando as roupas para acalentar, beijando para calar
E nada esquentava Gaia, terra de amar
Quando de repente num estalo resolvi ninar, encontrei uma barreira
Braços eu tinha para abraçar, faltava-me ombros de quem não cansa,
Loucura de criança, mãos grossas de um labutar
Eu, iludida inocência que
O mundo nas costas, fagueira fui bisbilhotar
Gabriel Melo 24-10-2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/