BONECO DE NEVE
BONECO DE NEVE
Ando pelas ruas cheias
As músicas se repetem
Faltam mãos pra sacolas
Não neva, restam bolas de isopor
Caras vestidos de vermelho
Barbas frouxas de algodão
Apitos, buzinas, e mais sacolas
O salário do mês treze no bolso
Uma guirlanda na porta
Show de luzes na cidade
O mundo todo se dá a mão
Pena que não sei o nome do meu vizinho
Sigo tão cercado e tão sozinho
Repentinamente meu coração se apieda
Do homem ao lado de uma latinha de moedas
Maltrapilho, sujo, estendido na calçada
Mas logo, pedestre , ao meu lado,
me traz à razão - não é miséria, é profissão.
O distinto faz ponto, cumpre horário, só não bate cartão.
Meus olhos se enganam - mas não ao coração.
Num instante, me lembro do Menino de Belém
Em todas as grandes coisas que Deus tem feito
Mas o oxigênio do meu cérebro
Parece um tanto quanto rarefeito
Talvez devesse comprar um cérebro biônico...
E não é que perco meu olhar num painel eletrônico,
Onde balofo boneco de neve
Tem em suas precárias mãos um tablete e um celular
E a vida se esvai ao alcance dos dedos...