Impressão

Belo Horizonte é uma cidade singular

em que a serra abraça os prédios

mornos que vejo aqui do alto

do Israel Pinheiro.

Entre os vãos dos brise-soleils de um modernismo disfarçado,

o final dos montes Curralinos

é enevoado por penumbras de fim de tarde.

Meu pai moribundo,

aqui do meu lado,

tenta descansar.

Imensidão crepuscular

que multiplica o cinza das construções nos baixios:

frontões com detalhes gregos

no formato acre de Morfeus letárgicos;

cornijas jônicas adornam

o portal que contrasta a feiura ao redor:

dimensão de espera,

recolhimento,

espasmos e cochilos rápidos.

Dimensão de espera.

Belo Horizonte cresceu

em quadras dos índios

e as capitais nos nomes,

ruas de transverso,

emaranhado de tempo.

Aqui no décimo andar

sei que depois

somente me recordarei

da esperança arfante e tristonha

de um milagre acima

de uma cama de ferro.

O milagre não veio.