Outono: memória e desolação
Uma derrota suave
o antes e o depois
nas camadas surdas do outono
silhueta apática da tarde
anoitecer inevitável
o peso do corpo no eixo
do banco carcomido
- uma praça -
luzes que ascendem
o recorte vermelho de um
carro estacionado OTHER SIDE
o vermelho dos freios que atravessam
as veias
o homem que guarda de ré
outro carro
na garagem improvisada
risadas de sua filha na casa
vizinha nem sabe
- risadas! - como ainda conseguem?
botas transparentes
dentes incisivos que despontam
inocência ainda
o estabelecimento das fisioterapias
que se abrirá na praça
e consertará os prumos
para o encaixe das madeiras
em ângulo
depois terra
campanário de memória e desolação
pássaros noturnos alojados
cães que choram em uníssono
recolher belezas nos microcosmos
nas folhas mortas em arranjo
de tapetes hoje inexistentes
Corpus Christi
minha derrota suave
o peito que oprime
o cinzel dos tons e ritmos
core
ethos estático
uma derrota suave
preciso levar a pena no bolso
o poema é pérola
suja e opaca
do recolher da sombra
hora imantada
preciso estancar o torpor
no momento exato do golpe
galopo neste outono
que hoje
à socapa
me acho.