Do céu dos cachorros

Ofélia, menina minha,

Cachorrinha obediente,

A companhia que me fazia

Meu coração ainda sente.

Nas horas de muita tristeza

Vinha aos meus pés se enroscar

E em silêncio e delicadeza

Fazia a dor do meu peito acalmar.

A gente que tenho visto

Não quer saber de amizade,

Não tem com a gente carinho

E vive de falsidade.

Você, sem saber da importância

Que tinha na minha vida,

Sem me fazer implicância,

Curava as minhas feridas...

Você não negava o amor

Que é de bicho, mas bicho que ama.

Você, que partiu sem ter dor,

De repente, apagada a sua chama.

E eu, agora, sozinho,

Eu olho o quintal e não vejo

Você, ao chegar do serviço,

Sua espera que não tinha preço.

Quero crer que no céu dos cachorros

Encontre melhor lar que o meu,

Encontre o que não lhe dei

E você sem pensar a mim deu.

Ofélia, menina minha,

Cachorrinha nada exigente,

Marcou esta vida perdida

E faz falta, hoje e pra sempre.