A alma que morre
A alma que sai dos sóis
Finda-se, com ele, nos arrebóis
E a estrela-mãe a leva
Para o bréu lúgubre e escuro.
Carregada por um homem obscuro
Para viver sob fisionomia de treva.
E neste mórbido Teatro Minerva
A alma balbucia e se eleva
À mais pagã sabedoria.
Vem, com o arrolo fresco,
Um odor fúnebre grotesco
Da carne apodrecida de dia.
Muito mais que a filosofia
Escrita em forma de poesia
Deixada sozinha ao relento.
Para a alma que é castigada,
Sofrida, triste e amargurada
A morte serve de alento!
Viver... viver na alma do verso
Viver... enquanto converso
Com o amor de minha vida ?
É sentir humilhada a alma
É beijar com uma doce calma
Uma lânguida malferida!
É adejar pela solidão do infinito
E bradar um doloroso grito
E, tristemente, ninguém escutar.
E nessa imensidão, correr
Sabendo que, neste ano, irei morrer
Nas margens tépidas do Sanhauá.