A alma que morre

A alma que sai dos sóis

Finda-se, com ele, nos arrebóis

E a estrela-mãe a leva

Para o bréu lúgubre e escuro.

Carregada por um homem obscuro

Para viver sob fisionomia de treva.

E neste mórbido Teatro Minerva

A alma balbucia e se eleva

À mais pagã sabedoria.

Vem, com o arrolo fresco,

Um odor fúnebre grotesco

Da carne apodrecida de dia.

Muito mais que a filosofia

Escrita em forma de poesia

Deixada sozinha ao relento.

Para a alma que é castigada,

Sofrida, triste e amargurada

A morte serve de alento!

Viver... viver na alma do verso

Viver... enquanto converso

Com o amor de minha vida ?

É sentir humilhada a alma

É beijar com uma doce calma

Uma lânguida malferida!

É adejar pela solidão do infinito

E bradar um doloroso grito

E, tristemente, ninguém escutar.

E nessa imensidão, correr

Sabendo que, neste ano, irei morrer

Nas margens tépidas do Sanhauá.

Cardoso de Figueiredo
Enviado por Cardoso de Figueiredo em 20/04/2020
Código do texto: T6923325
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