Elogio do sádico
Ó meiga morena,
como é belo teu ventre solto.
Tua coxa funérea, ainda mais!
Mas ouça-me,
deixai que eu morda teu repouso
tua carne ociosa,
teu perfume de Espanha.
Outros não haverão de olhar-te
com o naco que faltai.
Penso que a mim o destino
cabe nesta tua sanha de libertação.
Teu sangue é meu,
que bebo qual o suco viscoso de tua taça;
teu mistério ainda novo
agora pulsa em minhas mãos.
Tua ginástica controlada
equipara-se à contorção circense,
ao destrinchar do paramédico.
Mas ouça-me,
deixai que eu encontre tua luz,
tua vergonha descarada,
tua chafurda casca vil.
Ó morena minha,
teus braços,
altos brados
de minha tarefa circunspecta,
meu pecado de estilete,
meu amor sem coração.
Como consolo de Masoch,
deixarei que me cegues
para não ver também
teu retrato novo ao final.
Mas lembrai, morena remodelada:
minha boca tem teu gosto
como nunca outro
te darás,
como nunca outra lâmina
te darás.
Tua vitória me pertence.