Lamento do calvário urbano
Pelos pulsos d’alma que se cravam
na sofrida e purulenta cruz de carne
lamento muitas asceses que lavram
renegado querer meu em escarne.
Da culpa milenar que ao corpo cristaliza,
em contraste com razão que morte minha catalisa.
Tão piegas busca pelo há tanto resoluto.
Ó dolente alma, que vaga à nostalgia do absoluto!
(Et ne nos indúcas in tentatiónem)
Decepai deste vivo sepulcro as mãos e pés,
pois que fazem e encaminham-se ao mal.
Bebei das chagas o sangue vindo em marés,
(Sed líbera nos a malo)
ébrios entoai-me das bocas encharcadas a canção final.
Que guiar-me-á para junto às almas rés
em vislumbrar de meus restos pregados à cruz de pau.