A vida é uma pendência da morte.
Enquanto vivemos
acumulamos coisas, vestígios, traços
e pertencimentos.
Vem a morte e todo o
acúmulo é lixiviado.
Eliminado.
Transformado em herança ou legado.
Deixado.
Abandonado.


Pedência poética.
Sem rima,
sem lirismo.
A vagueza de ideias
dependuradas no varal do sentimento.
Algumas ideias secas e desintegram-se
Outras ideias, balouçantes ao vento
Conspiram com a eternidade.

Não morrem, são apenas
reticências de nós mesmos.

Uma frase inacabada.
Uma poesia inacabada
Uma obra inacabada.

Mas o espírito é findo.
O amor é finito.
O esquecimento é peremptório.
As ilusões alimentam enganos
e devaneios.

A sensação de estar presente.
Mas a presença é crença.
É sombra apesar da luz.
É paradoxo pacífico.


Há uma nesga de lirismo
num copo dágua,
na chuva,
no orvalho.
No planeta inteiro,
que quase todo água.

Na água do banho
lavo minhas culpas áridas,
lavo minhas palavras secas,
E, sobretudo, a alma
embriagada de poesia
de rimas e beleza catatônica.

A vida é pendência da morte.
A morte é pendência dos sobreviventes.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/12/2018
Reeditado em 06/12/2018
Código do texto: T6517620
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