A cura

Se espalhou

pelos tecidos

e ossos;

fluidos adoecidos,

células mortas,

destroços.

Dor no peito,

cansaço.

Falta de ar,

insônia,

sorriso desfeito,

coceira por todo lado.

Você está magro.

Seu olhar

está vagando tristonho,

disperso e devagar -

se lhe chamo,

se demora a reparar.

Os passos

pela rua,

ainda que poucos,

lhe fazem, a cada minuto,

parar e se apoiar

em um muro.

E se suas brincadeiras

e seu abraço

são um reduto,

o que restará

para tomar seu lugar

neste mundo?

Mas há esta força

que dEle vem,

maior que tudo,

que lhe move, restaura,

lhe refaz e traz de volta

de um poço fundo.

Teu espírito volveu (a se alegrar).

E, em tratamento,

sessão após sessão, a cada soro injetado,

o corpo, outrora quase defunto,

se refaz, junto

ao teu ser já curado.

Pai amado,

o que há de vir

a nós não cabe saber:

não é passado,

é futuro -

não há como ser desvendado.

No presente, de qualquer modo,

fica já o aprendizado:

as metástases da alma,

uma vez sanadas,

é o que importa.

E suas brincadeiras, pai. E o seu sorriso.