O DESPERTAR DA MORTE

Tudo que absolutamente sou e que ainda serei

Será inevitavelmente findado por um acidente fatal

Ou por um câncer ou por um ataque cardíaco

Residirei então em fotos até que elas apodreçam

Depois nas memórias dos que me amam até que envelheçam

E descansarei na imensidão do nada como se nunca tivesse existido

Espero o fim dividindo o começo com pessoas que detesto

E em lugares que me sufocam entrego os meus melhores dias

Para ter como pagar, para ter o que comer

E assim sobreviver para poder conviver com pessoas que detesto

E entregar os meus melhores dias em lugares que me sufocam

Para ter como pagar, para ter o que comer...

Sabendo que não sou nada e que nada serei por toda a eternidade

Me contento com as pequenas coisas mundanas

Que dentro do meu nada

São as únicas coisas verdadeiramente infindas

Matamos por medo da morte

Assim como nos escondemos em carros blindados

E que quando ligados derretem as calotas polares e queimam o oxigênio

Ou como quando abrimos mão de um grande amor

Não tenho medo da morte, acho que até que ela seja poética

O que me apavora é a separação que ela carrega

É a incredulidade do adeus, é a espada no coração da esperança

É o “nunca mais” manifestado em um corpo pálido e gélido

É a interrupção dos amantes no apogeu dos “uis”

É o fim inconvenientemente maldoso no apagar da luz.

Ainda Menina Mar
Enviado por Ainda Menina Mar em 14/01/2018
Código do texto: T6226078
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