Deixe-me morrer em paz... deixe-me viver
Morrer ou viver,
A morte rápida, chamamos morte,
A morte lenta, chamamos vida,
Ou apagamos a chama,
e nos espalhamos como lembrança,
Ou nos apagamos lentamente,
e assim, vivemos,
à espera que a morte nos envolva,
e passamos esta sina adiante,
frágeis planetas de vida curta,
nos consumimos,
de estrelas anãs à gigantes, de tristeza e esperança,
se vivermos até o fim de nossos ciclos,
se tivermos essa sorte,
se a saudade é o destino final,
se a poesia é como a morte,
Se pingaremos pra sempre,
ou sem sabermos se o pra sempre existe,
se nos afogaremos no grão-oceano, a existência,
neste mui velho mar, que apaga chamas e engole gotas,
que envolve tudo em sua loucura,
vivemos nela,
sim,
na loucura,
na total loucura de nada saber,
damos sentido a grãos de areia,
mas o que nos envolve não tem nome,
sem respostas para os mais importantes porquês,
deixe-me morrer em paz,
deixe-me viver,
deixe-nos,
se deixem,
se a vida é o se deixar,
não tem como,
não tem por onde,
mesmo o viver pra sempre,
mesmo a máquina orgânica,
frívola e supostamente segura,
nada escapa à melancolia,
nada escapa à realidade,
à profunda ignorância,
deixe-se morrer vivendo,
e viver, morrendo,
deixe-se sobrar,
e viva...