Eu, Morte
Lembro do tempo em que conversava com a Morte
E ela tentava me levar
E em meio a tantos conselhos e armadilhas
Eu sempre acabava por escapar
Ah, lembro muito bem dessa época de dilemas
Em que eu tentava lutar sozinha
Mas lá vinha a Morte me acalentar
Não, não eram seus consolos que eu queria...
Mas sua companhia tornou-se quase agradável
Sua perspicácia me deixava pasma
E era divertido brincar de argumentar
E jogar apostando nada menos que a prórpria vida
Ah, Morte... sinto saudades de quando tinha você para conversar
Suspeito que você mesma esperava que eu ganhasse,
Que de alguma forma preferia manter-me viva
Pois sabia que somente assim poderíamos jogar
Quem sabe você trapaceou algumas vezes
Favorecendo meu escape
E assim, mesmo quando eu queria perder,
Escapava ilesa, senão alguns arranhões
Ah, Morte... como pude não suspeitar
Que você jamais faria isso sem segundas intenções
E que tudo que queria era me treinar?
Seu cargo, pesado demais, é seu legado
E eu, sua escolhida herdeira
Hoje, já não a tenho para conversar
Mas, ainda converso com a morte
Quando não vejo nada refletido no espelho
Lembro do dia que você enfim me capturou
E conseguiu se libertar
Agora procuro uma vítima à altura
Um pupilo nato
Um bom jogador
O aprendiz que quando estiver pronto para ser Mestre
Irá por fim me libertar