Eu, Morte

Lembro do tempo em que conversava com a Morte

E ela tentava me levar

E em meio a tantos conselhos e armadilhas

Eu sempre acabava por escapar

Ah, lembro muito bem dessa época de dilemas

Em que eu tentava lutar sozinha

Mas lá vinha a Morte me acalentar

Não, não eram seus consolos que eu queria...

Mas sua companhia tornou-se quase agradável

Sua perspicácia me deixava pasma

E era divertido brincar de argumentar

E jogar apostando nada menos que a prórpria vida

Ah, Morte... sinto saudades de quando tinha você para conversar

Suspeito que você mesma esperava que eu ganhasse,

Que de alguma forma preferia manter-me viva

Pois sabia que somente assim poderíamos jogar

Quem sabe você trapaceou algumas vezes

Favorecendo meu escape

E assim, mesmo quando eu queria perder,

Escapava ilesa, senão alguns arranhões

Ah, Morte... como pude não suspeitar

Que você jamais faria isso sem segundas intenções

E que tudo que queria era me treinar?

Seu cargo, pesado demais, é seu legado

E eu, sua escolhida herdeira

Hoje, já não a tenho para conversar

Mas, ainda converso com a morte

Quando não vejo nada refletido no espelho

Lembro do dia que você enfim me capturou

E conseguiu se libertar

Agora procuro uma vítima à altura

Um pupilo nato

Um bom jogador

O aprendiz que quando estiver pronto para ser Mestre

Irá por fim me libertar

Dancker
Enviado por Dancker em 27/02/2016
Reeditado em 27/02/2016
Código do texto: T5556595
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