Diaria insônia
noite sintilante
purpura cor da insonia
ruas desertas e sujas
habitadas por ratos
todos querem adormecer
esquecer da vida latente
das fisionomias cansadas
desiludidas
a vida marca
o sonho salva
tudo é possivel
na terra do nada
escolas fechadas
cheias de historias
crianças apressadas
sonhando
vagabundos iluminados
perambulam
calçadas lavadas
pela chuva rala
seringas usadas
cabelos cortados
papel higiênico desenrolado
usado
a limpeza dos homens
é visível
dos animais
embaixo das unhas
mensagens escondidas
não entendidas
reveladas em partes
em medidas
mulheres desfilam
com saias curtas
fumando cigarros
seguidos de batom
madrugada quieta
comerciantes falidos
miseraveis
bandidos
eu no meio da mata
da cidade de pedra
de poucos poetas
ébrios noturnos
Kafka observa
kerouac descreve
burroughs enlouquece
rimbaud desaparece
vulgaridades modernas
nas telas e vitrines
pinturas cegas
de loucas incandescentes
pura nostalgia
é o tempo
marcando á lapis
uma trajetória
corujas despedem-se
fechando o caminho
daqui a pouco amanhece
durmo tranquilo