O SEGUNDO
Um segundo devorando a realidade,
nele seus olhos leem meus olhares
mergulhando na profundeza do texto,
leste minha índole, minha natureza,
da linha do horizonte, a pretexto,
cruzaste o dia, chegaste à meia noite;
do que leste não tenho certeza,
mas aquele segundo espraiado
se chocava em mim feito açoite,
viste o feroz animal acuado,
do ferimento, a voraz correnteza
e dali todas as páginas em contrição;
humilhado, olhei pra baixo,
desde então este segundo raptado
tem me envelhecido e tua circunspeção
mantém o tempo interdito.