Polvo
ó
deus supremo
ó
grande Polvo
por que não deixa eu fazer aquilo
que realmente quero?
seus enormes tentáculos se enrolam
em meus braços
e pernas
sua tinta viscosa e escura
assombra qualquer tentativa minha de enxergar
é
para cá
é
para cá
virando o volante
virando
e
para onde eu nem queria estar
eu vou
Polvo
Polvo
abençoado deus supremo
sei que só quer me proteger
teme por mim porque me amas
mas não vira meu olho para onde ele não quer olhar
não leva meus braços para onde eles não querem estar
não faz eu evitar tudo o que eu amo e que um dia eu gostei
sei que eu sou pequeno perto de ti
sei que sua vontade quase sempre é maior que a minha
eu só queria sentir algum dia grande como você é
poderoso como és
queria ser mais que um misero fantoche
sendo levado pela dança de seus grandiosos tentáculos
confortáveis
não mais
não mais pelo menos desse jeito
não nessa dança triste de quase morte
dança paralitica
Polvo
eu não queria te deixar ir
mas sei que se eu continuar assim
eu vou sendo levado contigo para o fundo do mar
para a parte mais escura
onde a luz não chega nunca mais
e meus desejos e sonhos
estão muito difíceis de enxergar.