Carpidarium II

CIRCUNFERÊNCIA TRIANGULAR

XIII

Terra a vista a estibordo

Grita do alto mastro

Para si mesmo marujo

A tripulação de um homem só

Da luneta me vejo em terra firme

Depois do motim em minha alma

Em que meu imediato me governa

Trancafiado a ferros em minha casca

O lugar de maravilhas

Dos pés humanos bem distante

A cripta dos tenros sonhos

Onde rio de sangue faz oceano

XIV

Vês aquele esta no pico do mundo?

Sou eu staccato ao violino

E aquele no mais profundo vale

A pintar também sou eu do ser eterno

E eu pinto o passado do meu futuro

Pinto o jovem violinista risonho

A luz impressionista do que não foi

Terei uma visão sinestésica e pintarei

À cadencia suspensiva de bravura

Chorei em cada tom escuro quando

Os corvos seguem para dilacerar

Meus sonhos no final da estrada

XV

Um pedaço de terra cercado

De universo por todos os lados

Como posso dizer que é belo

Se não conheço todo o cosmos

Que referencia temos de beleza

Alem dos nossos falhos sentidos

Treinados pela razão contraditória

E filosófica da ciência humana

A bela luz de uma estrela

Esconde o mistério de um astro

Que cansado da fadiga de arder-se

Há tempos se apagou

XVI

O canto gregoriano

Das ondas que se arrebentam

Ecoam aos meus ouvidos

Eu alegre e nunca feliz

Pés em terra firme

E a felicidade não tem antônimos

Vivendo com intensa alegria

Sinto-me triste

Como se eu só pudesse ver

Felicidade na tristeza

Da minha jornada no nada

Inexplicável que tão puro vi

XVII

À medida que o ouro

Anelar mareava

Iam-se os dedos

E ele permanecia

Como sonâmbulo

Andei por anos

Cego pela realidade

Explicita a minha frente

Mendigando os votos

Que só eu tinha jurado

Enquanto cruzavam os dedos

Os rotos debaixo da mascara

XVIII

Quando eu gritei

Para eu próprio – basta

Do sonho acorda

Desfaz a aparente simbiose

A areia firme fez-se movediça

A multidão de cores

Num turbilhão verteu-se

O negro breu da noite

Vi-me soletrando segredos

Nu como um feto abortado

A cabeça entre as pernas tremulas

No canto escuro próximo a latrina

XIX

Caído na sarjeta dos dias

Provoco-me para meus mitos

A lama da hipocrisia vivida

Ainda correndo nas veias

Sorrisos que esconderiam

Milhares de dores psíquicas

Pelo preço de úlceras que se

Arrebentam debaixo da mascara

Oh! Ilha dos ciclopes

A compreensão nítida

Que todos rompantes altivos

De minha alma é nada - ninguém!

XX

Como não haverá esperança

Para o filho da viúva?

Naim passa pelos meus olhos

Estáticos estendido num esquife

Minha inocência volta ao presente

Enquanto a madura astucia

De instantes em pontos de fuga

Corre para um remoto pretérito

Morro sozinho

Afogado no veneno de mistérios

Que só os loucos sabem

Para mais tarde ressuscitar