AO VIVO DESABAFO!
De que me adiantam
as vozes desconhecidas
vomitando holofotes
em suas próprias atenções?
Qual a mínima utilidade
dos inócuos textões
mendigando likes
em muitas direções?
O que faço das prescrições
dos profetas da produtividade
regurgitando setas
que nas metas do trabalho
as tem fundo enfiado?
Onde boto essa positividade,
vinda de sabe deus onde,
que pulula nas mensagens
do Face, Instagram, Whatsapp?
Diabo que os carregue!
Este quarto está lotado,
este copo está cheio,
este corpo está farto!
Não quero o ruído das lives,
bater ponto e prestar contas
aos patrões da virtualidade,
não tenho de segurar as pontas,
não sou obrigado a estar animado.
Se eu quiser ficar trancado
e chorar alto dentro de casa?
Se eu tiver vontade
que o silêncio imorredouro
deste vazio me consuma?
Se eu me negar à luz
fechando os olhos no escuro?
Quando a morte paira
mais tangível que invisível
que se fodam as aparências
dos tempos normais,
isso aqui é uma epidemia,
não retiro ou terapia,
pro inferno essa paz!