O poema vazio.
Toma vergonha na cara seu vagabundo,
acorda pra vida.
Vai trabalhar, competir, se formar,
regredir.
Pague a conta, apague a ponta,
vira gente, seu demente.
Esqueça os sonhos, entorpeça a alma,
cale a dor.
Entra na marcha do gado, deixe esse lápis de lado,
para de olhar pro tempo.
Comida não cai do céu,
quem rejeita a picada não merece o mel.
Acorda, palhaço.
Não vê que a poesia te inspira a loucura?
Que a dor não tem cura e que a vida é dura?
Que poetas são vadios sem chão,
que o amor só é belo em canção.
Deixa de preguiça, adote a gana,
abraçe a cobiça.
Contenha se, retenha se, detenha se.
Não pense.
Atrofia tua alma
para o teu corpo aflorar.
Esvazia tua calma
pra escassez te empurrar.
Não suspire,
não se inspire.
Apenas respire fundo
e se prenda com o ar.
Mergulha no poço fundo
que és destinado a nadar.
Contra a corrente, contra a torrente,
de encontro a corrente ali forjada na altar.
Acorda, caminha,
espera, obedeça.
Não pergunte, não responda,
apenas maneira a cabeça.
Se quer chorar, te esconde,
se quer amar, se afaste.
É assim que é.
Se quiser ter, não pode ser.
Depois masturbe se em delírios vãos
pra não sentir sem paixão.
E assim termina a poesia do poeta que nunca mais escreveu.