FESTA NO CEMITÉRIO - VIVO NÃO ENTRA
A lua grande clareia
Toda área do cemitério
Pura magia, não é mistério
Nenhum sangue na veia
Aqui existe imaginação
Não somos obsoletos
A dança dos esqueletos
Vai mexer com sua emoção
Hoje vai ter uma festa
Mas vivo não pode entrar
Coisa assim não vai encontrar
Ficar lendo isso lhe resta
A lua cheia é nossa companheira
Os mortos deixarão suas covas
Velhas carcaças e também novas
Vão animar a nossa brincadeira
Parece mentira o que digo
Das tumbas saírem os ossos
Também temos direitos nossos
Pode dizer que é um castigo
Mas é uma fantasia somente
Não queiram nos contestar
Repito: vivo não pode entrar
É festa somente prá gente
Gente a gente não é mais
Somos apenas ossos esquecidos
Como vocês já fomos parecidos
Não teremos carne jamais
Daqueles que já foram gente
Nós temos uma pena danada
Pensam que nessa jornada
Imaginam ficar para semente
Mas vamos falar da festa
Que estamos organizando
O fogo fátuo brilhando
Vai ter uma grande seresta
Os brancos ossos tilintando
Uns aos outros agarrados
Todos alegres, despreocupados
O frescor da noite nos saudando
Depois da algazarra terminar
Cada um prá sua cova seguindo
Sem ninguém prá ficar sorrindo
O silêncio agora vai predominar