Anagogia
a face sempre entrego à noite
pro vento a percorrer.
feita a leitura do silencio
ele se roça no tecido erógeno
dos meus lábios
arrancando-me um suspiro
espiralado indo ao encontro
do lóbulo tenro
e translúcido de um anjo
criado para ouvir apelos
mundanos desassisados.
ronda-me, sinto-o
sem aparente silhueta
que me faça afundá-lo nos olhos,
porém se adeja abusivamente
seduzindo outros sentidos.
como em transe alucinógeno
sinto que suas asas fazem
o ar dançar
com multidão de mãos
traz à olfação
perfume oriundo de algo
comparável a rosas
sândalo e mel
e quando em mim resvala,
contornando o terreno onde
templo, sinto sua pele nua
revelando-se sedosa textura
como que de maleável tecido cetim
e,
intimamente sobrenatural
e repentino,
deita-me na madrugada,
põe em fuga a realidade
pra tomar posse
da minha fragilidade carnal