Ao meio

Ao meio

Cortada ao meio.

Metades inexatas.

De um todo improvável.

Cortada ao meio

Meio viva.

Meio morta.

Meio vegetal.

Meio animal.

Uma parte de mim é metabolismo.

Outra parte de mim é metafísica.

Parte da fala é dialética.

Parte do pensamento é monolítico.

Tropeço entre as metades soltas

no mundo.

Metade de uma pedra.

Metade de um fóssil...

Metades inverossímeis.

Inexoráveis.

Relatam parcialmente

o que assistiram.

Testemunhas ocasionais

De fatos absurdos.

Concretos, complexos e

surreais.

Cortada ao meio

Metade se agita.

Metade se aquieta.

Uma metade é um...

E a outra metade se

traduz em várias.

Metade grita.

Metade medita.

Metade aceita.

Metade renega veementemente.

Quem contará as metades?

Quem saberá das metástases?

Quem é encaixa em quem?

No sexo.

No nexo.

No medo.

No escuro. No silêncio

Ou apenas sub-repticiamente

Na reles metade inteira

Que conta por dentro

as horas e a falta de outra parte.

As partes não se encaixam.

As metades compactuam.

Tramam ser um todo e inteiro.

Tramam por dentro o

funcionamento mágico

da razão...

Tecem o contexto.

E desabrocham

em pleno clímax.

Metade da razão é nada.

Metade do pensamento é infinito.

Metade da palavra.

É cisão.

E, a outra é sílaba

em traição ao fonema.

Que geme,

grunhe e, ao final,

confessa friamente

os desejos mornos do

meio da adolescência.

Metade de mim foi sua.

A outra metade foi minha.

A metade que era sua

se perdeu.

A metade que era minha

se libertou.

Hoje a perdida liberdade divide-se.

E multiplica-se sucessivamente.

Em frações indizíveis.

Mensuradas em momentos

Mas, absolutamente

incindíveis pela poesia.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/01/2015
Reeditado em 24/01/2015
Código do texto: T5103264
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