Autoexorcismo
O sol tingia-se de solidão
E ele somente teve impressão
De que sua alma era um reflexo.
E já no fim da reflexão,
Mudou o tom da escuridão
E ali, com a vida perdeu o nexo.
As paredes do quarto não eram paredes,
Eram limites
Eram fronteiras.
Separavam-no de algo que não o pertencia,
O mundo, as pessoas,
A vida inteira.
Estava com sua melhor companhia,
Quem melhor o entendia,
Estava sozinho.
Uma música triste tocando baixinho,
Exteriorizando tudo que sentia.
O céu estava naquele estado,
Entre o início da noite
E o finalzinho da tarde,
Esse fosco covarde
Foi o que lhe coube,
Não lhe cabia céu sequer nublado!
Aquele era seu máximo mundo,
Só ali podia sentir-se amável.
Se dali escapasse, seria um intruso
Mentindo pra si que era encaixável.
O ontem distante, tão cheio de risos,
Parecia um instante
Que morreu sem avisos.
Agora sobrava um agora de dor
Que o desbotava aos poucos
Como no verso anterior.
Parecia-lhe fora de possibilidade
Nascer amanhã
Um amanhã diferente.
Que lhe aparte a parte sozinha do tempo,
Toda a parte aparente dessa mágoa existente.
Se um dia morrer esse ontem aflito,
Invadam sua solidão com um grito.
Calem a música então sem motivos,
E mostrem que a vida é pra se estar vivo.
Mas por enquanto, o céu tá sem cor.
Ele não fará nada,
Não é bom pintor.
É bom somente em esperar que as paredes
Desmontem, destruam
Qualquer dissabor.
Mundo, mundo, gasto mundo
Se eu me achasse moribundo,
Seria uma sina,
Não seria preocupação.