Quebra da Indústria de Tempo
O tempo está passando mais rápido hoje.
A indústria dos segundos está se modernizando,
funcionando a todo vapor.
Fabrica dias, semestres, momentos
todos prontos para consumo
mas cuidado: após o consumo, demorarão pra se decompor.
Talvez nem se decomponham
e virem lembranças dentro do âmago.
Talvez apodreçam e se eternizem em dor.
O tempo está passando mais rápido hoje.
É que nesse capitalismo selvagem não dá tempo de viver
o tempo devagar.
Mais pessoas vão nascendo e mais tempo se desgastando.
E mais tempo se cria, pra cada humano acatar.
A superprodução consegue a todos atender,
só não tem tempo pra si mesma.
Senhor Tempo, vá descansar!
O tempo está passando mais rápido hoje.
Saí de casa, fumei um cigarro, tomei um café e li o jornal do dia seguinte.
Peguei o ônibus de abril, que como habitualmente, trafegou na normalidade,
desci no junho tão sem requintes.
Ainda deu tempo de nascer meu filho cuja mãe conheci há dois meses
mas faz dois anos que nos separamos.
O tempo está passando mais rápido hoje
Tão rápido que às vezes sinto que nem os ponteiros do relógio aguentam a velocidade que o destino escolheu que corressem, sempre em círculos como embriagados e mais embriagados ainda ficamos nós cujo tempo que ainda nem nos adaptamos a esse tempo em que mal é noite e o dia chega e eu ainda nem terminei de ver a novela muito menos viver ou amar até porque hoje em dia agora todo mundo sofre com ejaculação precoce porque antes de tirar a roupa o sexto mês de grávidez já está aí e la fora as nuvens correm tão rápido que parecem pilotos de fórmula 1 e ganha quem chegar primeiro ao pódio que não existe, elas se dissipam e displicente eu vou, mentira, displicência não existe, é palavra grande, nem deu tempo de escrever no dicionário, que aliás li de uma ponta a outra em meio segundo e a gora cada vez mais di silá bicos es tamos e ca da vez mais mo no si lá bi cos a t é n ã o t e r m a i s n a d a.
A superprodução quebrou.
Crash da bolsa
de memórias.
A produção está falida.
A publicidade diz
para reciclarmos nossas memórias
reinventando nossa alma
e repensando nossas escolhas.
Hoje o dia amanhece.
Tranquilo.
O despertador toca.
Novamente...
desperta
a dor.