Vênus
Mais a frente há uma escada de estrelas
De degraus feitos de sonhos
E de graus negativos no inverno
dos quais não me envergonho.
Se subo ou se fico, não sei
nem me arrisco com tanta certeza.
Penso arisco
que "ser sideral"
posso, cético, considerar
estranheza existencial.
Poderia subir e parar e pairar e saber
Sem poder suspirar.
Poderia saber se tão tristes
seriam os outros
com o fim que tu me destes.
E sentir minha própria ausência
De medos
medir-me inteiro
E todos os desatinos
Desistirem do meu corpo celeste.
Se cósmico ou cômico, não sei
Não quero caber
Tenho raiva de quem acaba.
Só quero a pureza do sorriso
Estampada em cada rosto
Mesmo após
o improviso.
E ali, bem além dos seus dias,
desprovido do alegre e do triste,
talvez não sinta nada
talvez eu sinta mais ou menos,
mas a tendência é me despir
das sensações
para ser só
Vênus.
Se Vênus, nos vermos, não sei
Pra ti sou estrela d'alva
E estrela eu nunca fui.
Tudo que fui foi discrepante
Em meio a tantos lamentos plenos,
agora sou eu
o mais brilhante,
meu brilho inútil
meu brilho Vênus.
Agora além, alguém ao léu
Atento sente
o alento meu.
Mas virei lenda pra ti.
latente,
sumi.
Dissolvi em desenganos amenos.
Resolvi
de vez em quando
ser Vênus.