INVERNO
O que fazes aí fora
Infeliz bêbado
Buscando nevasca
Na neve?
Teu copo jaz
Gelado na janela,
Teu corpo entregue
Ao frio e ao relento
Goteja pelos poros
Inverno e a tua volta
Tudo é gelo e pó!
O cão já recolhe-se,
O mendigo cobre-se
E tu sem trapos, nu
Passeia pelas ruas
De pés descalços
E barba por fazer;
Gritas como se cantasses
E teus cânticos
São mais gelados
Que a tempestades
Que invocas;
Teu lamento fecha
Portas, apaga fogueiras,
O uivo de tua garganta
Faz temer a lua,
A cidade inteira
Treme em suas camas
Enquanto tu sozinho
Cantas e cantas o porvir:
Vede céu, Vede tudo
que por todo inverno
a cair no mundo
não há nada que chegue
ao frio do coração
humano e imundo!