Se há inverno em minha vida
Numa tarde fria, cujo céu se mantém cinza,
em cujo solo a garoa é bem-vinda;
as gotas descem como neve a temperar o solo,
e enquanto fico á contemplá-las, encontro-me só.
A beleza disto é o desenho representado:
Um poeta solitário contemplando a cortina esbranquiçada;
onde o sol e as estrelas se escondem, para renascerem no porvir;
ou em um amanhecer possam ressurgir.
A brisa não leva só gotas, leva também lágrimas de quem chora;
Talvez leve as por mim derramadas, nesta abrupta hora;
O frio traz consigo seus ares de melancolia,
espalhadas por todos os lugares por onde eu ia.
e por todas as paisagens que eu vira.
Talvez não seja o ambiente, talvez seja eu a fonte disso tudo;
a origem de toda esta contaminação que assola o mundo,
o mundo que eu vejo, e que me cerca;
se iguala á mim como estas pedras,
que assim ficam, até serem levadas,
para onde talvez não queiram ir...á mil léguas.
As marcas do arrependimento são feridas que nunca se cicatrizam;
dóem na alma em corpo intacto;
fazendo-o adoecer e suar prantos,
ó fonte de lágrimas que suja o prado.
Antes pudessem levar, de pouco á pouco,
as manchas de meu passado...
Que este triste inverno, seja ao menos como um amigo terno;
escute meu clamor, leve embora esta dor;
se não com palavras, ao menos como depositário de minhas mágoas;
que se esvaem assim nas lágrimas derramadas,
ou nesta poesia agora declamada.