MIL PALAVRAS
Eu queria ser cego e só ver escuridão, porque do escuro que visse haveria ainda a luz do que não vejo ao contrário de ver a luz e descobrir que ela também traz escuridão;
Eu queria ser surdo e não ouvir nenhum som, já que certamente na imutável cena que se segue, eu não saberia as falas, tampouco as falaria enquanto fossem faladas e tudo seria inédito embora fosse silêncio;
Eu queria ser mudo e não conhecer a palavra para não poder expressar o que sinto e o que sinto fosse assim suprimido, sem vazão e sua expressão fosse o sagrado da imutabilidade que o manteria puro
No entanto,
Eu já vi, ouvi e falei e de tudo maculei com esta pré-presença dos sentidos que nada mais é do que as trevas ou loucura de minha lucidez lançando juízo nas inconsequentes cenas que se seguem, que nada mais é ao meu ver, do que esta enganação que está sempre presente.