Festa

Sobre a relva que balança, calma,

sob o céu escuro e perfurado,

as mulheres dançam umas com as outras

enquanto seus maridos conversam ao lado.

No centro do círculo de dança

há a mais alta e bela fogueira

de cujo interior emana a mais suave música,

que embala os corações da multidão inteira.

O templo ao lado, sede da festa,

é todo iluminado por tochas e velas,

seu interior é livre de pecados

e sua ideologia é livre de querelas.

Nesta noite, há a certeza

de que ali estão apenas os escolhidos.

Sentem-se como a distante realeza,

os governantes de supostos paraísos.

Nada parece fora de seu lugar:

Entre as chamas da fogueira queima a bruxa,

que canta a linda orquestra de gritos.

O combustível não é lenha,

são páginas de livros.

Nas celas ao fundo do templo

morrem, um a um, hereges famintos

enquanto em sua sala mais escura

arrancam-se pecados malditos.