PSEUDO-EGO
Chamavam-me
deus
naquela vila,
desembarquei
de um céu sem
estrelas
numa noite
de mar pesado.
Trazia aceso
um cigarro,
provei meu poder
bebendo a um só
golpe
todo estoque
de uísque
da taça,
ajoelharam-se
clamando:
Partilhai
conosco
seu trago,
escolhi a mais moça
dentre as putas
e lhe disse
para beijar
meu nariz,
lhe inflei
de fumaça
enquanto hinos
eram cantados
nas praças.
Disse-lhes:
Sou rei
ganhei uma coroa;
Sou deus
fizeram-me totem;
Sou homem
deram-me uma virgem,
Sou profeta
publicaram meus ditos
e eis que daqui
escrevo-lhe
um pedido urgente:
vens pois preciso
de um amor de verdade
neste mundo falso
que criei
recheado de analogias
teóricas,
descartado da prática
sólida
e eu solúvel
feito líquido
pra saciar
um povo faminto
do egoísmo nosso
de cada dia!