POÉTICA DESGRAÇADA
POÉTICA DESGRAÇADA
E eis-me diante às brancas páginas que pensa
Na clausura da via láctea de trevas luzidias
Nas vascas da agonia duma própria sentença
No carnaval de sangue das minhas pornografias.
Quem perscruta essa poética desgraçada
Vê que a brandura desse peito foi descabaçada
Pela bruteza do homem se aclimando ao mal
E por gentileza se igualar a um pífio animal.
As arcas encouradas da existência que descora
Dimana neo-santos que do roubo não se cansa
E faz a juventude desrespeitar a esperança
Na romaria dos maus exemplos que ancora.
Hás de desembainhar a espada da educação
Para estrangular o indômito rábido falaz
Nos nimbos ascensionais de tua dedicação
Para que no mundo perpetue o excesso de paz.
Sou fruto de uma humanidade que manieta,...
Até os pensamentos que porventura não completa
A sua falsa moral quebrantada de preconceitos
E que reza à desprezibilidade de todos os defeitos
Como se a vida fosse prenhe do teu rosário.
Ora! Que para o mundo escarro meus parasitas
Nas faces tristes dessas gentes esquisitas
Que no túmulo não apagarão velas de aniversário
E cá lhes deixo o meu escárnio como reverência.
Eu que só tenho a morte como excelência
Miseravelmente sorrio para toda subserviência
A essa espécie, que ainda caminha, em experiência.
CHICO DE ARRUDA.