Morte

Era uma noite tempestuosa

e eu feria a grama

cavando minha sepultura.

Era uma bela hora...

livrar-me-ia das minhas ancoras

e minha carne saciaria a fome dos urubus.

E então me apareceu, como um fantasma

a imagem daquela mulher...

bela de madeixas corvinas

bela cujo nome meu coração chama desesperadamente

mas em vão...

E agora minha hora já tarda

e há ancoras em minhas pálpebras.

Quantas noites dadas ao pranto

ao desencanto de minh’arte...

A melancolia perseguia-me

como um gato caça o rato,

mas agora não mais,

pois minha hora já tarda

e há ancoras em minhas pálpebras.

Infinitos clamores fiz

para um Deus surdo

surdo para mim...

Mas agora é tarde para escutar-me,

pois minha hora tarda,

já cavo minha cova

e finalmente livrar-me-ei das ancoras

que sempre pesaram em minhas pálpebras.

Tomado por devaneios, termino minha catacumba

agora minhas pálpebras podem render-se as ancoras,

estas que irão ancorar no fundo do abismo criado por mim.

E eu, meu próprio algoz,

sinto um cano frio

apontando para o órgão com o maldito latejar,

órgão responsável pela minh’amargura

e então de súbito

.

Larissa Segantini Negrão
Enviado por Larissa Segantini Negrão em 19/07/2013
Código do texto: T4395094
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