Morte
Era uma noite tempestuosa
e eu feria a grama
cavando minha sepultura.
Era uma bela hora...
livrar-me-ia das minhas ancoras
e minha carne saciaria a fome dos urubus.
E então me apareceu, como um fantasma
a imagem daquela mulher...
bela de madeixas corvinas
bela cujo nome meu coração chama desesperadamente
mas em vão...
E agora minha hora já tarda
e há ancoras em minhas pálpebras.
Quantas noites dadas ao pranto
ao desencanto de minh’arte...
A melancolia perseguia-me
como um gato caça o rato,
mas agora não mais,
pois minha hora já tarda
e há ancoras em minhas pálpebras.
Infinitos clamores fiz
para um Deus surdo
surdo para mim...
Mas agora é tarde para escutar-me,
pois minha hora tarda,
já cavo minha cova
e finalmente livrar-me-ei das ancoras
que sempre pesaram em minhas pálpebras.
Tomado por devaneios, termino minha catacumba
agora minhas pálpebras podem render-se as ancoras,
estas que irão ancorar no fundo do abismo criado por mim.
E eu, meu próprio algoz,
sinto um cano frio
apontando para o órgão com o maldito latejar,
órgão responsável pela minh’amargura
e então de súbito
.