Puro-sangue

Abalo todas as noites o sono de justos,

soando o bater de asas do meu cavalo;

o danado sorri divertido, a cada susto,

pedestal brincalhão, eu sou seu busto,

um centauro louco sobre os arbustos,

e, não passo uma noite sem cavalgá-lo;

Cada pena que veste suas asas vastas,

é vagido angustiado de meus poemas;

a leitura da vida e seus bisados bastas,

umas esperanças vividas outras castas,

papéis arquivados, em escuras pastas,

a mera carência de beber algo, apenas;

E assim fazemos o nosso passeio vago,

duas porções de terra, pairando no céu;

tem noites que é lindo o céu cá do pago,

fajuto álibi ensaiado, nos lábios o trago,

pois, quando o sono dos outros estrago,

é porque o meu morreu foi pro beleléu;

Desperdiço balas nesse bangue- bangue

poderia matar esperança, otimismo e fé;

mas, são do bem, não trato como gangue,

só espero que o meu potro não se zangue,

ao suportar a sua estirpe de puro-sangue,

posta a acasalar com essa sina de pangaré..