O Pigarro
Sinto sufocar,
O gosto do cuspe,
Vai se avolumar,
Endurece antes que mude.
Um pigarro preso,
Contido na garganta,
Provoca desespero,
Cuspir não adianta.
Asfixia aos poucos,
Sufocante metódico,
Emplastrado e rouco,
Um sustenido fibrótico.
O gosto ferruginoso,
Demonstra hálito de sangue,
Um hiato ruidoso,
Fissura que nasce em rompante.
O beijo sufocado,
Aquosidade gelatinosa,
Reprimido escarro,
Contido de forma rançosa.
Se expelir sairá o sopro da vida,
Metamorfoseado nessa textura,
Se apegando na hora da saída,
Grudado feito ventosa de sanguessuga.
Não se pode engolir,
Fica entalado no caminho,
Um entrave que não pode abolir,
Deixa o portador em estado doentio.
Se fosse excretado,
Feito vômito,
Mas é algo menos flácido,
Muco indômito.
Quer enforcar por dentro,
Mistura de alquimia sangrenta,
Mercúrio pestilento,
Espécie de química nojenta.
Regurgitando coágulos púrpuros,
Morrendo em pequenos bocados,
Suspiro em cárcere mudo,
Último resquício pigarreado.