O mau humor de Deus
As ruas estavam desertas, vazias,
e pombos bebericavam água suja;
fragmentos das máscaras se via,
O dia bem servido dando lambuja...
Cães de mendigos donos da praça,
o semáforo fechando sem motivo;
vácuo de pulsos ermo que abraça,
sem o sinal de um único ser vivo...
Os anjos pasmos custavam crer,
outros até riam da crassa ironia;
homo sapiens se negando saber,
ou, fugindo da mazela que sabia...
Nada dando ao tempo, ouvidos,
que era tão caro, se fez barato;
outro valor que fora esquecido,
pudor, enfim, calçava os sapatos...
Deus amanheceu de mau humor,
porém, não quebrou nada, calma!
apenas ocultou corpos, o Senhor,
e, ante todos, desnudou as almas...
Maquiagem resultava impotente
penas desalinhadas eriçadas asas;
quantas fichas caíram, finalmente,
e nesse dia, ninguém saiu de casa...