VIVA-ME
Viva-me, suplico-lhe, pois já é sabido que anoiteceu.
É noite, e instante de transformar-me,
é noite, e estou, pois então, aqui, neste pedaço de tudo.
Viva-me, questione-me, arranque-me de mim mesma.
Detesto olhar para o céu e ver algo,
já disse-lhe que o nada me supre, me conforta.
Viva-me, entrelace seus dedos, nesses aqui...que penso serem meus.
Lamento haver limites, dentro e fora de mim,
ah como lamento esse amontoado de coisas precisando de espaço,
e o espaço? Não deixo, não crio, não me importo.
Viva-me, como se respirar fosse a única saída, viva-me.
São fagulhas, que acendem, que cantam, que piscam, que torcem...
São pedregulhos, que trouxeram-me, que aceitei em criar, que tentei amar,
não, não posso amá-los, não sei amar dentro de limites.
Viva-me, enrole-me, enlace-me, jogue-me pro ar,
viva-me como se fosse um crime.
Sou um crime, pois bem sei...
sou um crime, sou pecado, sou além.
Viva-me, transporte-me, sinta-me.
Não me peça tranqüilidade,
não me peça calma,
não me peça metades,
e muito menos um talvez.
Viva-me, viva-me agora.
Que é isso? Que conformidade te rondas?
Isso não é meu, nem jamais seria,
portanto, largue-a, sufoque-a, faça-a perder o rumo.
Não suporto conformidades, muito menos realidades. Detesto. Cada parte delas...
Viva-me, anseie-me, feche os olhos, e apenas viva-me.
Não quero eternidade,
não quero segurança,
não quero concretismos,
não quero e nem aceito.
Viva-me, sinta-me, de qualquer maneira, viva-me.
Viva-me como isto fosse suficiente, como se bastasse.
Mistério, turbilhão de sentimentos,
afeto, desembaraçar, teus olhos, tudo.
Viva-me, viva-me, pois necessito de loucuras,
viva-me, e adoce-me com três colheres de amor.