Ensandecida
Uma insanidade cresce e come meu sentir.
Gargalha a loucura que me invade sem cerimônia.
O espelho mostra a figura distorcida...
Aura enegrecida de tristezas...
Lágrimas quebram-se como cristais no travesseiro de pedra.
Essa rua e tão minha, quanto aquele descaminho me pertence.
Pra que um céu infinito, esse mar cerceado?
O mundo é um hospício mal reformado.
Quantos loucos por mim passam em seus carros importados...
Eis na praça um velho em seu terno de domingo,
Levando o guarda-chuva pendurado no braço...
A menina faz pirraça, se joga ao chão, quer um balão vermelho...
O cão faz cocô no canto do canteiro...
Outro cão vem cheirar seu rabo...
Procuro o meu... Não tenho um.
Pombos ciscam a areia fina e uma gaivota declina sobre a onda...
Peço carona, ela nem liga...
Também como fugir dessa redoma hospícia?
Na há muralhas, não há salvação aos meus nem aos seus...
O Céu é a abóbada...
Somos cárceres.
Pobres cárceres da insanidade de Deus!