.x.|. PoeMa De MiM SeM FiM .|.x.
Exclamações
Sobre a impureza da vida...
Coisa apodrecida
Carne fedida
E ossos na refeição...
Tenho escaras
E tantas caras
(amarras)
Que já não me acho
Nem mais, nem menos...
Enquanto tilintam
As taças da vaidade
Minha ingenuidade
Escorre pela borda...
Enquanto tu me abordas
Com palavras raras
Escondidas taras
E sensações demais
Mais me desmascaras
Sabendo a realidade
Que tenho escusa
Porque sou feita,
Em regra,
Do mesmo desregramento
Que há em ti.
E se tuas promessas
São falas vazias
E tuas afasias
Gritam da demagógica
Cortesia que doas ao mundo...
Quero,
Com meu nojo mais profundo,
Distanciar-me de ti
Para somente assim
Fugir de mim mesma...
Tudo o que eu queria
Era a firme garantia
De não mais vestir-me
Co'esta vasta hipocrisia...
Mas meu solo é algodão
Meu peito frio verão
E já não sei mais sentir
Porque mentir agora é vício...
E insisto em conquistar
Aquilo que sequer me apraz
Apenas pela glória fugaz
De saber-me vencedora...
Enganável! Ludibriável!
Mera manipuladora!
Ainda que frágil:
Sabe parecer
Senhora de todas as dores;
Rainha dos muitos amores;
Grande vazio de alma...
Por que o espanto?
Por certo em algum canto
Deste teu olho que julga
Jamais guardaste prazer
Em conhecer a vitória
Ainda que maculados os meios?
Por que a sentença?
Julgas que tua crença
Neste deus tão distante
Haverá em matar tua sede
De felicidade?
Julgas que há capacidade
Àquele que é comedor de pão
Gozar o júbilo da eternidade?
Olha tuas feridas
Tua carne fraca, envelhecida
Olha tua memória
Que história foste capaz de construir?
Quem se lembrará de ti mais tarde?
Come tuas flores de lótus,
Beba do ópio que escorre
Das telas acesas nestas noites
Em que as estrelas envergonharam-se
De serem estrelas...
Pousa tuas mãos num cinzeiro
Visita o mais sujo puteiro
E rasga uma puta qualquer...
E guarda que sou a mulher
Cuja face jamais tu verás
Se em tua face
Houver pele de cordeiro...
Não sei dar valor
Àquilo que me enoja
Não sei abrir a porta
Quando o vento morno
Traz o cheiro que se aloja
Por ser tão horrendo e grudento...
Resquício do abraço sumarento
E fétido da hipocrisia...
E é pelo todo que tu lês
E pelo muito que escondes
Em minhas próprias tortas linhas
Que mais ainda tu me desejas
Ainda que estejas ciente
Do quanto sou incoerente,
Displicente, prepotente e insana.
Porque não há como resistir
Ao que é perturbador...
E a perturbação é minha face,
A mais importante ciência
Que resolvi alimentar
Pela sobrevivência
Neste caos de me-existir.
É caos meu pensamento,
É anarquia minha filosofia,
Folhas verdes: a minha paixão
Horror e morte minha atração
Felicidade: minha agonia.
E ainda te achas capaz
De apregoares essa paz
Que jaz mentirosa
Nestas tuas mãos imundas?
Me poupe! Sou o que és.
Sou desacerto, sou revés.
Sou impossibilidade diante do certo
Sou incorreto, devassidão e erro.
Sou o desterro do lixo de mi'alma...
E sei dizer que a roda gira
Porque Tykhe lança dados na capela
Em que eles-tantos-tontos se ajoelham...
Sou guitarra, souL amarra
Grito e pura insensatez...
Sou fracasso, descaso, desfaçatez...
Sou orgulho branco, sou poema franco
Sou escassez...
Certo é que tu me vês
Real. Tu me vês trivial
No vidro brilhante da sala,
No reflexo da janela que abala
A ideia de que és diverso
Neste universo que encerro em mim...
Olha bem, sou o esboço
Do destroço que tu'alma se tornou...
Sou o pacto que não vingou
E o caco que furou teus olhos...
Para sempre souL
Aquela que persegues nos sonhos
E que jamais alcançaras
Porque jamais libertaste de ti mesmo...
E não há fim,
Porque em mim
Somente há desconexão...
E nó.
Gira comigo,
Gira sobre o próprio umbigo
Pois é esta a tua e a minha
Divagação maior.
E que assim seja.
Enquanto o mundo festeja
Saibamos que o mestre
Desta grande peleja
É a franqueza de sermos
Somente nós, em Nós.
Porque não se foge
Da própria natureza...
Está tudo amarrado.
Amém ao nó.sso dáimon.