VISUALIZAÇÕES
VISUALIZAÇÕES
Eu vejo cadáveres
... Cadáveres vivos.
Eu vejo vultos
... Vultos invisíveis.
Eu ouço burburinhos
... Burburinhos de risos.
Eu ouço vozes
... Vozes inaudíveis.
Eu sinto movimentos
Na imobilidade
Dos movimentos.
No escuro enxergo
Relâmpagos de iluminação.
Cadáveres vivos são o que?
Não sei por quê
Os defuntos não falam.
Ou serei eu o incapaz
De ouvi-los?
Sussurram em meus ouvidos
O incompreendido
Mas me faço de entendido.
Ouço passos sem pegadas
Com meu nome em chamadas.
Será que dói morrer vivendo?
Brigo com meu cérebro
Não o deixo em confusão
Combato o que acho ilusão.
Nessas minhas oscilações
Dentro desse desconhecimento
Convenço-me dessas visualizações
Sem medrar meu conhecimento.
Pressinto desgraça
Gostaria de compreender
Essa graça, ou pirraça.
Privem-me desse desprazer
Ou se façam entender.
As grandes cidades, as metrópoles
Estão cheias de mortos,...
E o universo nem mesmo notará.
Como vivem os mortos?
Gosto de defuntos sorridentes
Ironizamos nós, reles viventes.
Parece que vivos somos inexistentes
E eles, os mortos, vivem contentes.
Tenho certeza que algo pegou
Então fico doido a procurar
E o que buscava não encontrou.
Será que tem “alguém” a me sacanear?
Os mortos brincam com nós, vivos.
Não há defunto torpe.
A carne apodrece.
A beleza da alma
É a que aparece.
Corpos são: adubo humano.
Porque não doamos
O que a terra irá comer?
É aviltante saber
Que outro ser não ajudamos.
Os vivos somos nós,... Mortos.
Nossa ultima morada
Não pode ser num caixão.
A vida não pode ser ultrajada
Abafada na escuridão.
Ainda vejo cadáveres vivos
Ainda pressinto os vivos mortos
Entretanto aprendi a respeitá-los
Um dia irei encontrá-los.
Serei mais um deles a te atormentar.
CHICO DE ARRUDA.