O Vômito
Coloquei pra fora,
Restos saídos de mim,
O que comi fazia horas,
Escapava pela boca ao expelir.
Bocados de alimentos,
Não sabia indentificar o que era,
Pra muitos algo nojento,
Uma visão deveras indigesta.
Coloridos orgânicos,
Misturados a uma sopa,
Olhares de pânico,
Respingou em minha roupa.
Me sentia dissolvido,
Sendo posto pra fora,
Meu corpo diluído,
Uma poça que no chão aflora.
O gosto ácido no paladar,
Resquícios de pequenos fragmentos,
Cuspindo algo a incomodar,
A boca rejeita os últimos provimentos.
Expulsando o mal digerido,
Num gesto de repúdio ao engolido,
Quase num desmaio perco os sentidos,
Um barulho que faço pode ser ouvido.
Desmanchando no vomitado,
Sujeito aquoso que se movimenta,
Um pouco engoliu e o outro escarrado,
A consistência ao esfriar é mais gosmenta.
O cheiro de azedo no ar,
As cores vibrantes que dão vida,
Um cachorro lambe ao passar,
Pro cão faminto é renovada comida.
Não creio ter cagado pela boca,
Pois não fiz a digestão completa,
É uma prévia das fezes que ressoa,
Por dentro de nós essa coisa grudenta.
O esôfago queimado,
Líquido que intoxica,
Seu fluído é gástrico,
Ao sair me contamina.
Expulso feito um possuído,
Meu demônio é líquido,
Leviathan outrora reprimido,
Me faz de orgânico veículo.
Dou golfadas repetidas,
Contraindo o peito em desespero,
Parece que vou cuspir as tripas,
Minha boca se tornou um bueiro.
A ânsia de vômito persiste,
Sinto o gosto amargo,
Os lábios pálidos transmitem,
O deplorável estado.
Sentando próximo da privada,
Olhando pra boca do vaso,
Com a minha boca como descarga,
Enchendo com pouco intervalo.
A poça grudada nos pelos das pernas,
A água da privada respingando no rosto,
A cabeça pendida que na borda se entrega,
A miséria do entregue e desfalecido corpo.
Se pudesse faria como o cão,
Comeria de novo esse vômito,
Reabsorvendo minha expulsão,
Adentrando lugares recônditos.
Só pra me vomitar de novo,
Um indigesto que insiste em ingerir,
Até que a máquina chamada Corpo,
Produza hiatos-corrosivos nesse ir e vir.