Minhas metades

Metade de mim é bálsamo de um rosal,

a outra metade é redemoinho sem fundo,

porquanto um lado morre,o outro imortal

vai se enchendo de ramos e florescendo!

Metade de mim são raízes consistentes,

que mantém rente a lógica exacerbada,

mas asas s’abrem cima, incandescentes,

tateando a sombra esperançosa infinda!

Metade de mim não segue o caminho reto

porque é reto,prefere arriscar surpresa

preterida pela outra metade,arisco vento.

Sou tílburi na banguela sem auto-defesa!

Metade de mim é o silente canto d’aurora,

avivando o sonho ido qu’implora chances,

a outra é o bulício,desassossega e devora

pelas beiras a ânsia insana dos romances!

Minha metade lobo entre os cordeiros ruge,

contudo se vulnera ante a candura submissa

e quando a chuva de lágrimas doces a tinge,

humaniza-se e ao acordo se torna propensa!

Metade sou pedra lisa dura,intransponível,

mas constantemente deslizo como córrego,

amansado,ensaiando o cantar mais sensível,

que miscigene nuanças do meu arquipélago!

Santos-SP-01/11/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 02/11/2006
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