Da séria série: POEMAS ENCARDIDOS
 
 
Pertinho da vidraça
 
Cadenciosamente, a chuva lá fora
Devora a intenção do meu silêncio.
Eu, que nem me pertenço
Penso em gatilhos apontados
Para as sentenças dos homens...
Homens que pregam sonhos
Em paredes de papel machê
E sustentam planos
Em inúmeros ganchos
Que logo, logo irão se desprender...
 
Cadenciosamente, a chuva devora
Minha retórica cheia de fobia e alta tensão.
Eu, que sei quase nada de mim
Desembaço os vidros com embaraço
Que os homens me peguem soluçando
Numa apavorante disritmia sem solução.
Eu, que minto sistematicamente nesse divã
Cansei de cortar a língua dos mortos
E jogar para os porcos, covardemente
Só para não ouvir o ruído da assombração!
 
 
 
 
Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 15/01/2011
Código do texto: T2731352
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.