AVESSO

Nunca, e sempre tão parecido
O alinhavo da costura.
O beijo nutrido
Pelo gosto da tortura!
Sou a parte do medo
Aquilo que o tremor devora.
A unha dolorida do apego
Pedaço do olho que chora!
Sou o viço alarmante
O vício metido no verbo.
A agonia naquela estante
Cheirando a pó de cedro!
Sou a parte do esboço
O  lodo que escorrega.
A manilha daquele poço
Infiltrada e pouco reta!
Sou a caricatura
Da lira absurda.
A poesia que urra
Na língua seca e aguda!
Sou o avesso
O ponto escondido.
Uma carta sem endereço
Colada dentro do umbigo!
E de todo o descoeso
O livre e puro arbítrio,
De ser o fim do recomeço
Apenas por ser o início...
Sempre mais e sempre pouca
Minha parte imaculada,
O bréu do céu da boca
No avesso da palavra!

Não houve nada!
Não há nada!
Haverá palavra?
Hein?
Não ouço...
Ouve?!?















Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 24/12/2010
Reeditado em 24/12/2010
Código do texto: T2689103
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