Desafiando Carlos Gardel
Meu avô me pediu uma poesia
Cuja nostalgia soasse como os tangos de Carlos Gardel
Insegura eu disse não sei como fazer isso vô
Então ele me disse
Feche os olhos e misture desgosto com amor
Ponha para fora minha neta toda a tua dor
Nas luzes difusas de um cabaré
Ele vê se aproximar com uma rosa vermelha na boca uma mulher
Seria ela uma santa, uma perdida ou uma louca?
Durante um tango toda paixão ainda é pouca
Garboso ajeita sua lapéla como se estivesse na Argentina
Ela o olha desafiadora
Dentro dela duela uma mulher e uma menina
É uma flor de delicadeza
Que faz o boêmio se levantar da mesa
Segura com firmeza o corpo de Raquel
Que se enlaça com sutileza aos braços de Gardel
O tempo nos faz todos iguais
Riscam o salão deixando no ar o perfume embriagante da moça de Batatais
Ele a conduz com segurança e sedução
Nos olhos negros dela brilham intensamente a paixão
São dois corpos compenetrados no bater de um só coração
Dançam para esqueçer da amargura e da ingratidão
Um boêmio incompreendido e com um triste riso debochado
Uma moça com a boca carmim sem passado
Irão juntar o que resta deles ao final da dança
Se abraçarão como duas crianças
Finalmente ela dará um sorriso cheio de esperança
Ele ajeitará o chapéu e voltará com ela na lembrança para o céu
Mais quando a triste moça sentir saudades dos braços protetores de Gardel
Procurará por ele nos discos nostalgicos do querido avô de Raquel...