Deixei-me levar

De encontro à labareda ruiva ensolarada e salgada,

que com garras me abraça e os meus braços alaga,

já não sei se rompe ou amarra essa onda que morre

antes que todo o meu castelo pecaminoso se aterre!

Radical anti-nostalgia ruge sensata, meus sentidos,

na liberdade sem âncoras, que aproxima os mundos,

exultam libertos, de velas içadas no seio do oceano,

no abraço mortal que fará meu ser frondejar sereno!

Luminosa quietude sobrepõe um cantarolar distante,

que às minhas entranhas d’água assomou o diferente

canto d’encanto que converte hirtas âncoras em seda,

marejando abismo dos mares cujo tapete me enreda!

Medos que tive, cantos que canto. E dores se foram

maduradas num crispar de sal aparente, vaso de mel

d’incrível infinitude, rompendo amarras que atavam

mil mãos em velas brancas cerradas sob o largo céu!

Meu barco sem paredes, sem chão, portas ou janelas,

apenas belo telhado lusco-fusco,que esparge estrelas

à luz do dia que nasce à qualquer hora que eu queira;

Ah, não me deixasse àquela onda longínqua tão pura!

Não me beijaria a humanidade, com sua boca madura,

a doce alma há pouco murmurante galopada pelo mar,

não fosse cant'uníssono de sombra e lume a abraçar

a'lma,lá se privaria da liberdade que tanto venera!

Santos-SP-06/07/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 06/07/2006
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