Ais

Ai de mim
que agito-me
com o apito da chaleira,
pois é chegada a hora
e a porta aberta...
espera.

Ai de mim
que suspiro o  teu cheiro
na noite de lua cheia
e nos alvos lençóis.

Ai de mim que grito aos ventos
o desejo da tua fala mansa
cavoucando o meu ouvido.

Ai de mim que bocejo
antecipando a tua hora de dormir.

Ai de mim
que sereno os teus remansos
e  desencadeio tuas avalanches.

Ai de mim que espeto-me
em versos prolixos
e numa  poesia arranhada.

Ai dos meus silêncios engolidos,
que de mim,
dizem mais que as palavras.

Ai de mim
e dos meus tantos ais
presos nas entrelinhas.


Ais de mim...
Dos meus ais...
Dos sagrados sais...
Das voláteis certezas...

Ai do amor equilibrista
ainda se mantém na corda bamba.

E a vida segue sem pressa.


*Fátima Mota*
FATIMA MOTA
Enviado por FATIMA MOTA em 14/08/2009
Código do texto: T1754509
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