Parir

Minhas mãos ainda ardem inquietas...

No meu peito uma angustia tremenda...

Lembro-me das dores de parto...

Lembro-me das dores que minh’alma remenda...

Entro em transe nas madrugadas tão quietas...

E de escrever nunca... Jamais me farto.

A necessidade absurda de criar o que não foi criado...

Eu sei... Há ainda muito mais para se inventar...

Dentro de mim uma voz grita... Contorcida revolta...

Eu preciso alcançar as outras dimensões...Para inovar...

Preciso satisfazer este espírito inebriado...

Preciso aliviar essa alma que voa... Tão solta.

Quero me jogar ao chão e acompanhar esta contorção interna...

Quero parir essa onda enorme que não encontra vazão...

Quero me virar do avesso... Quero rasgar a pele...

Quero abrir o peito e por pra fora meu coração...

Quero me mostrar por dentro e aniquilar a imagem externa...

Quero ser a contradição que mais e mais questão revele...

A flor abre suas pétalas e desabrocha um grito estridente...

O grito sai... Traz consigo algo que fica pelo meio do caminho...

Entalada... Engasga... Sufoca... Obstrui...

Não é pedra... Não é tropeço... Nem rosa... Nem espinho...

É fúria... É clamor... É um ser saindo pela boca... Transparente...

É o que entra invadindo... Toma-me... E me possui...

Puxo os cabelos... Arremesso uma xícara... Urro...Descontrolada...

Não é ódio... Não é raiva...Nem tão pouco irritação... Nem tesão...

É fome da alma empanturrada... Que cheia de dor quer parir no cio...

São meus demônios internos transformando meus abismos em vulcão

É minha insanidade copulando com minha razão despudorada...

É minha supernova entrando em conflito com meu bicho arredio.

São Paulo, 27 de Dezembro de 2008.

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 27/12/2008
Reeditado em 27/12/2008
Código do texto: T1354608
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