O bêbado
O bêbado ia pra casa com pernas
De vento torto. Trôpego feito ideia
Que não acerta o lugar de pouso.
A rua ria dele, estreitava a calçada
Para ele tropeçar. E ele tropeçava
Cambaleante como passarinho
Que aprende a voar caindo.
O bêbado conversava com o poste,
Fazia do silêncio uma graça, achava
Que o poste era parente antigo.
Falava dele, e da vida do poste
Que nada falava.
Estrelas piscavam de um jeito saliente
Ele ria, gargalhava porque as estrelas,
Mulheres insinuantes, bolinavam
Seus cabelos suados.
Parem, meninas, que já estou
Tonto demais!
Queria, o bêbado, achar a porta de casa,
Mas se a encontrasse, não saberia ao certo
Se era porta ou sombra de árvore embriagada.
Num ato de extrema lucidez, seguiu a ermo...
Murmurando: pra que porta?
Se tenho todas as ruas do mundo.