O bêbado

O bêbado ia pra casa com pernas 

De vento torto. Trôpego feito ideia

Que não acerta o lugar de pouso.

A rua ria dele, estreitava a calçada

Para ele tropeçar. E ele tropeçava

Cambaleante como passarinho

Que aprende a voar caindo.

O bêbado conversava com o poste,

Fazia do silêncio uma graça, achava 

Que o poste era parente antigo.

Falava dele, e da vida do poste

Que nada falava.

Estrelas piscavam de um jeito saliente

Ele ria, gargalhava porque as estrelas,

Mulheres insinuantes, bolinavam

Seus cabelos suados. 

Parem, meninas, que já estou 

Tonto demais!

Queria, o bêbado, achar a porta de casa,

Mas se a encontrasse, não saberia ao certo 

Se era porta ou sombra de árvore embriagada.

Num ato de extrema lucidez, seguiu a ermo...

Murmurando: pra que porta? 

Se tenho todas as ruas do mundo.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 12/11/2024
Código do texto: T8195121
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