“LÍNGUA-AÇU”

Sob as brumas que vestias

Sobre tantas que nem vias

Acionei teu mecanismo

Que da beira do abismo

Meio-passo e precipício

No princípio era o início

Puro vício!

Puro vício!

E nessa queda exorbitante

O meu dedo circundante

Cutucante em teu ouvido

Quando ouvi o teu gemido

O cotonete toca a íngua

Maçaneta quase à míngua

Pede língua!

Pede língua!

É poliglota e linguaruda

Tem a ponta bem aguda

E saliências no entremeio

Que lixando foi e veio

Sem demora já implora

A caixinha de pandora

Tudo agora!

Tudo agora!

E respirando acelerada

Não percebes quase nada

Do silêncio ensurdecido

Num suspiro corrompido

Que ditavas em comício

Tuas unhas roem o vicio

Puro vício!

Puro vício!

E chegado ao fim do poço

E de já ter filado o'almoço

E com semblante aliviado

E eu já te vi virar de lado

E num sorriso sem futuro

E boa noite, já no escuro...

Dorme duro!

Dorme duro!

(*) “Açu” - desinência que, em tupi-guarini, é

sinônima de “grande, considerável, comprido,

longo” (ex.: iguaçu, paraguaçu, jacaré-açu,

etc ) e antônima (oposto) de “mirim”.

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 25/11/2007
Reeditado em 25/11/2007
Código do texto: T751558
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