“LÍNGUA-AÇU”
Sob as brumas que vestias
Sobre tantas que nem vias
Acionei teu mecanismo
Que da beira do abismo
Meio-passo e precipício
No princípio era o início
Puro vício!
Puro vício!
E nessa queda exorbitante
O meu dedo circundante
Cutucante em teu ouvido
Quando ouvi o teu gemido
O cotonete toca a íngua
Maçaneta quase à míngua
Pede língua!
Pede língua!
É poliglota e linguaruda
Tem a ponta bem aguda
E saliências no entremeio
Que lixando foi e veio
Sem demora já implora
A caixinha de pandora
Tudo agora!
Tudo agora!
E respirando acelerada
Não percebes quase nada
Do silêncio ensurdecido
Num suspiro corrompido
Que ditavas em comício
Tuas unhas roem o vicio
Puro vício!
Puro vício!
E chegado ao fim do poço
E de já ter filado o'almoço
E com semblante aliviado
E eu já te vi virar de lado
E num sorriso sem futuro
E boa noite, já no escuro...
Dorme duro!
Dorme duro!
(*) “Açu” - desinência que, em tupi-guarini, é
sinônima de “grande, considerável, comprido,
longo” (ex.: iguaçu, paraguaçu, jacaré-açu,
etc ) e antônima (oposto) de “mirim”.