MATEI A MORTE
Ai eu tenho tanto pra dizer
Mas nem sei por onde começar
Porque falo tanto em sofrer
Se o qu' eu quero é cantar
Mas as notas engasgam na garganta
E não conseguem subir
Por mais que me esforce a dor é tanta
Que me sinto sucumbir
Apelo à força que me guia
Que as ajude a desencalhar
Por mais que a alegria ria
Eu não consigo cantar
Não consigo cantar
Porque a dor é bem forte
Eu começo a pensar
Se o nó na garganta
Não é o estertor da morte
Já vislumbro a sua gadanha
Fujo fujo a sete pés
Pra ver se ela não me apanha
Mas a esperta é mais lesta e poderosa
Corre, voa, ai que ela me abocanha
O seu capote negro me apavora
Aproxima-se sorrateira
E me lança a gadanha
Tem fama de boa ceifeira
Olho pra ela de revés
E prego-lhe uma rasteira
A morte caíu bem à minha frente
Tomei-lhe a dianteira
Fui buscar uma marreta
Amassei-lhe as pernas e a cabeça
Mas antes houvera luta...
Esmigalhei seus ossos miudinho
Grande filha da mãe
Não te metas no meu caminho!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 05/04/14